segunda-feira, 29 de setembro de 2008

LE GOFF, Jacques. HISTÓRIA E MEMÓRIA

CENTRO UNIVERSITÁRIO METODISTA IPA
CURSO DE HISTÓRIA
TEORIA E PRÁTICA DE MUSEU – 6º SEMESTRE
Profª.: Thais Gomes
Alunos: Cláudio Bandeira, Evandro Guimarães e Luiz Cláudio

FICHAMENTO


LE GOFF, Jacques. HISTÓRIA E MEMÓRIA.

Pg 20. Paul Veyne, finalmente tira uma dupla lição do fundamento do conceito de historicidade. A historicidade permite a inclusão, no campo da ciência histórica, de novos objetos da história: o non-événe- mentiel; trata-se de acontecimentos ainda não reconhecidos como tais - história rural, das mentalidades, da loucura, ou da procura de segurança através das épocas. Chamaremos non-événementiel a historicidade de que não temos consciência enquanto tal (1971, p. 31). Por outro lado, a historicidade exclui a idealização da história, a existência da História com H maiúsculo: "Tudo é histórico, logo a história não existe".
Temos porém de viver e pensar com este duplo ou triplo sentido de "história”. Lutar contra as confusões grosseiras é mistificadoras entre os diferentes significados, não confundir ciência histórica e filosofia da história. Partilho a desconfiança da maior parte dos historiadores de ofício perante essa filosofia da história "tenaz e insidiosa” (Le febvre, 1945-1946), cuja tendência, nas suas diversas formas, é levar a explicação histórica à descoberta ou à aplicação de uma causa única e original, substituir o estudo pelas técnicas científicas de evolução das sociedades, sendo essa evolução concebida como abstração baseada no apriorismo ou num conhecimento muito sumário dos trabalhos científicos.

Pg 21. Penso, pois, que a brilhante demonstração de Paul Veyne ultra- passa um pouco a realidade. Ele pensa que não se trata de um gênero morto, ou que apenas sobreviva nos epígonos de tom um tanto popular", ou que seja um "falso gênero". De fato, "a menos que seja uma filosofia revelada, uma filosofia da história será um duplo da ,explicação concreta dos fatos e remeterá para


Pg 23. [...] A ciência histórica conheceu, desde há meio século, um avanço prodigioso: renovação, enriquecimentodas4écpicas e dos métodos, dos horizontes e dos domínios. Mas, mantendo com as sociedades globais relações mais intensas que nunca, a história profissional e científica vive uma crise profunda. O saber da história é tanto mais confuso quanto mais seu poder aumenta. Paradoxos e ambigüidades da história

A história é uma ciência do passado OU "só há história contemporânea ?

Marc Bloch não gostava da definição "a história é a ciência do passado" e considerava absurda "a própria idéia de que o passado, enquanto tal, possa ser objeto da ciência" (1941-l942.,pp. 32-33). Ele propunha que se definisse a história como "a ciência dos homens tio tempo" (ibidem). Pretendia com isso sublinhar três caracteres da história. O primeiro é o caráter humano. Embora a investigação histórica englobe hoje alguns domínios da natureza (cf. Le Roy Ladurie, 1967), admite-se geralmente que a história é a história humana, e Paul Veyne sublinhou que uma "enorme diferença” separa a história humana da história natural: "O homem delibera, a natureza não; a história humana tornar-se-ia sem sentido se negligenciássemos o fato de os homens terem objetivos, fins, intenções" (1968, p. 424).


Pg 24. A idéia da história dominada pelo presente baseia-se numa célebre frase de Benedetto Croce em La storia come pensiero e comeazione, que sugere que "toda a história" é "história contemporânea. Croce entende por isso que, "por mais afastados no tempo que pareçam os acontecimentos de que trata, na realidade, a história liga-se às necessidades e às situações presentes nas quais esses acontecimentos têm ressonância (1938, p. 5). De fato, Croce pensa que, a partir do momento em que os acontecimentos históricos podem ser repensados constantemente, deixam de estar "no tempo"; a história é o "conhecimento do eterno presente" (Gardiner, 1952). Esta forma extrema de idealismo é a negação da história. Como E. H. Carr notou, Croce


Pg 25. [...] questões ao passado. Perigosa, porque se o passado tem, apesar de tudo, uma existência na sua relação com o presente, é inútil acreditar num passado independente daquele que o historiador constrói.[...] O passado é uma construção e uma reinterpretação constante e tem um futuro que é parte integrante e significativa da história. [...] Novas leituras de documentos, frutos de um presente que nascerá no futuro, devem também assegurar ao passado uma sobrevivência - ou melhor, uma vida, que deixa de ser "definitivamente passado". A relação essencial presente-passado devemos, pois, acrescentar o horizonte do futuro. Ainda aqui os sentidos são múltiplos. As teologias da história subordinaram-na a um objetivo definido como o seu fim, o seu cumprimento e a sua revelação. Isto é verdadeiro na história cristã, absorvida pela escatologia; mas também o é no materialismo histórico (em sua versão ideológica), que se baseia numa ciência do passado, um desejo de futuro não dependente apenas da fusão de uma análise científica da história passada e de uma prática revolucionária, esclarecida por essa análise. Uma das tarefas da ciência histórica consiste em introduzir, por outras vias que não a ideológica e respeitando a imprevisiqilidade do futuro, o horizonte do futuro na sua reflexão (Erdmann, 1964; Schulin, 1973).


Pg 26. Os historiadores do contemporâneo, do tempo presente, ignoram-no. A história contemporânea difere, assim (há outras razões para esta diferença), da história das épocas anteriores.
Esta dependência da história do passado em relação ao presente deve levar o historiador a tomar certas precauções. Ela é inevitável e legítima, na medida em que o passado não deixa de viver e de se tornar presente.
Esta interação entre passado e presente é aquilo a que se chamou função social do passado ou da história. Também Lucien Febvre (1949): "A história recolhe sistematicamente, classificando e agrupando os fatos passados, em função das suas necessidades atuais. É em função da vida que ela interroga a morte. Organizar o passado em função do presente: assim se poderia definir a função social da história (1949, p. 438). E Eric Hobsbawm interrogou-se sobre a "função social do passado" (1972; ver também o artigo "Passado/presente", neste volume).


Pg 27. XVII, porque exaltava a recordação da monarquia francesa, sob a Monarquia de Julho, porque os historiadores liberais e burgueses (Guizot, Augustin Thierry) viam nela uma aliança benéfica entre a realeza e o povo, e entre 1871 e 1914, "como uma primeira vitória dos franceses sobre os alemães"! Depois de 1945, Bouvines cai no desprezo da história- batalha.
Nicole Loraux e Pierre Vidal-Naquet mostraram como, na França de 1750 a 1850, de Montesquieu a Victor Duruy, monta-se uma imagem "burguesa' da Atenas antiga, cujas principais características teriam sido o "respeito pela propriedade, respeito pela vida privada, expansão do comércio, do trabalho e da indústria' e na qual se reencontram as mesmas hesitações da burguesia do século XIX: "República ou Império? Império autoritário? Império .liberal? Atenas assume simultaneamente todas estas figurações" (Loraux e Vidal-Naquet, 1979, pp. 207-8, 222). Entretanto, Zvi Yavetz, interrogando-se sobre as razões pelas quais Roma teria sido o modelo histórico da Alemanha no início do século XIX, respondia:

Porque o conflito entre senhores e camponeses prussianos arbitrado depois de Jena (18O6) pela intervenção reformista do Estado, sob o controle de estadistas prussianos, fornecia um modelo que se julgava reencontrar na história de Roma antiga: Niebuhr, autor da Ró'mische Geschichte, aparecida em 1811-12, era íntimo colaborador do ministro prussiano Stein (1976, pp.289-90).

Pg 27. Na historiografia escrita apareceu, em 1840, uma viragem:. Até então, os historiadores, católicos ou protestantes, só nutriam desprezo por esta revolta de camponeses. Mas, com a Histoire des pasteurs du désertde Napoléon Peyrat (1843), Les prophetes protestants deAmi Bost (1842) e, depois, com a Histoire de France de Michelet (1833- 1867), desenvolveu-se a lenda dourada dos camisards, à qual se opõe uma lenda católica. Esta oposição alimenta-se explicitamente com as paixões políticas da segunda metade do século XIX, levando ao confronto entre partidários do movimento e defensores da ordem, estes erigindo os camisards em antepassados de todas as revoltas do século


Pg 29. Saber e poder: objetividade e manipulação do passado

Segundo Heidegger, a história seria não só a projeção que o homem faz do presente no passado, mas a projeção da parte mais imaginária do seu presente, a projeção no passado do futuro que ele es- colheu, uma história-ficção, uma história-desejo às avessas. Paul Veyne tem razão ao condenar este ponto de vista e dizer que Heidegger "mais não faz do que erigir em filosofia antiintelectualista, a historiografia nacionalista do século passado".
Em primeiro lugar, porque há pelo menos duas histórias, e voltarei a este ponto: a da memória coletiva e a dos historiadores. A primeira é essencialmente mítica, deformada, anacrônica, mas constitui o vivido desta relação nunca acabada entre o presente e o passado. E desejável que a informação histórica, fornecida pelos historiadores de ofício, vulgarizada pela escola (ou pelo menos deveria sê-lo) e pela classe media, corrija esta história tradicional falseada. A história deve esclarecer a memória e ajudá-la a retificar os seus erros. Mas estará o historiador imunizado contra uma doença, se não do passado, pelo menos do presente e, talvez, uma imagem inconsciente de um futuro sonhado?
Deve estabelecer-se uma primeira distinção entre objetividade e imparcialidade:

A imparcialidade é deliberada, a objetividade inconsciente. O historiador não tem o direito de prosseguir Uma demonstração, de defender uma causa, seja ela qual for, a despeito dos testemunhos. Deve estabelecer e evidenciar a verdade 01.1 o que julga ser a verdade. Mas é-lhe impossível ser objetivo, abstrair das suas concepções de homem, nomeadamente quando se trata de avaliara importância dos fatos e as suas relações causais (Génicot, 1980, P.. 112).


Pg 32. Sobre a construção do fato -histórico, encontraremos esclarecimentos em todos os tratados de metodologia histórica (por exemplo, Salmon, 1976, pp. 46-48; Carr, 1961, pp. 1-24; Topolski, 1973, par te V). Citarei apenas Lucien Febvre na sua célebre sessão inaugural no College de France, a 13 de dezembro de 1933: "Dado? Não, criado pelo historiador, e quantas vezes? Inventado e fabricado, com a ajuda de hipóteses e conjecturas, por um trabalho delicado e apaixonante [...] Elaborar um fato é construí-lo.
Ranke acreditava piamente que a divina Providência cuidaria do sentido da História, se ele próprio cuidasse dos fatos [...] A concepção liberal da história do século XIX tinha uma estrita afinidade com a dou- trina econômica do laissez-faire [...] Estava-se na idade da inocência e os historiadores passeavam-se no Jardim do Éden [...] nus e sem vergonha, perante o deus da história. Depois, conhecemos o Pecado e fizemos a experiência da queda e os historiadores que hoje pretendem dispensar uma filosofia da história (tomada aqui no sentido de uma reflexão crítica sobre a prática histórica) tentam simplesmente e em vão, como os membros de uma colônia de nudistas, recriar o Jardim do Éden, no seu jardim de arrabalde (1961, pp. 13-14).
Se a imparcialidade só exige do historiador honestidade, a objetividade supõe mais. Se a memória faz parte do jogo do poder, se autoriza manipulações conscientes ou inconscientes, se obedece aos interesses individuais ou coletivos, a história, como todas as ciências, tem como norma a verdade. Os abusos da história são apenas um fato do historiador, quando este se torna um partidário, um político ou um- lacaio do poder político (Schieder, .1978; Faber, 1978). Quando Paul Valéry declara: “A história é o produto mais perigoso que a química do intelecto elaborou [...] A história justifica o que se quiser.


Pg 34. O singular e o universal: generalizações e singularidades da história

A contradição mais flagrante da história é sem dúvida o fato do seu objeto ser singular, um acontecimento, uma série de acontecimentos, de personagens que só existem uma vez, enquanto o seu objetivo, como o de todas as ciências, é atingir o universal, o geral, o regular.
Já Aristóteles tinha afastado a história do mundo das ciências, precisamente porque ela se ocupa do particular, que não é um objeto da ciência - cada fato histórico só aconteceu e só acontecerá uma vez. Esta singularidade constitui, para muitos, produtores ou consumidores de história, a sua principal atração: “Amar o que nunca se verá duas vezes".
A explicação histórica deve tratar dos objetos "únicos" (Gardiner, 1952, li, 3). As conseqüências deste reconhecimento da singularidade do fato histórico podem ser reduzidas a três, que tiveram um el1brme papel na história da história.
A primeira é a primazia do acontecimento. Se pensamos que, de fato, o trabalho histórico consiste em estabelecer acontecimentos, basta aplicar aos documentos um método que deles os faça sair. Assim, Dibble (1963) distinguiu quatro tipos de inferências, que levam dos documentos aos acontecimentos, em função da natureza dos documentos que possam existir: testemunhos individuais (testimony), fontes coletivas (social bookkeeping), indicadores diretos (direct indicators), correlatos (correlates). Este método excelente só tem o defeito de definir um objetivo contestável. Em primeiro lugar, confunde acontecimento e fato histórico, e sabemos hoje que o fim da história não é estabelece!, estes dados falsamente "reais" batizados de acontecimentos ou fatos históricos.
A segunda conseqüência da limitação da história ao singular consiste em privilegiar o papel dos indivíduos e, em especial, dos grandes homens. Edward H. Carr mostrou como, na tradição ocidental, esta tendência remonta aos gregos, que atribuíram as suas mais antigas epopéias e as suas primeiras leis a indivíduos hipotéticos (Homero, Licurgo e Sólón), renovou-se no Renascimento com a voga de Plutarco; Carr reencontra o que chama jocosamente "a teoria da história do 'mau rei João' (Sem Terra)" (The bad kingtohn theory of history) na obra de Isaiah Berlin, Historical inevitability (1954) (Carr, 196.1).. Esta concepção, que desapareceu praticamente da história científica, infelizmente continua a ser espalhada por vulgarizadores e pela media, a começar pelos editores. Não confundo esta explicação vulgar da história feita por indivíduos com o gênero biográfico que apesar dos erros e mediocridades - é um gênero maior da:" história e produziu obras-primas historiográficas como o Frederico 11 (Kaiser Friedrich der Zweite), de Ernest Kantorowicz (1927-1931). Carr tem razão em lembrar o que Hegel dizia dos grandes homens: "Os indivíduos históricos são os que cumpriram e quiseram., não um objeto imaginado e presumido, mas uma realidade justa e necessária e que a cumpriram porque tiveram a revelação interior do que pertence realmente ao tempo e às necessidades" (Hegel, 1805-1831).
De fato, como Michel de Certeau bem disse (1975), a especialidade da história é o particular, mas o particular, como demonstrou Elton (1967), é diferente do individual, e o particular especifica, quer a atenção, quer a investigação histórica, não enquanto objeto pensa- do, mas, ao contrário, como limite do pensável.
A terceira conseqüência abusiva que se extraiu do papel do particular em história consiste em reduzi-la a uma narração, a um conto. Augustin Thierry, como nos recorda Roland Barthes, foi um dos defensores - aparentemente dos mais ingênuos desta crença nas virtudes do conto histórico:

Disse-se que o objeto da história era contar, não provar; não o sei, mas estou certo de que, em história? o melhor gênero de prova, o mais capaz de tocar e convencer os espíritos, o que inspira menor desconfiança e deixa menos dúvidas, é a narração completa [...] (1840, ed. 1851, 11, p. 227). '

Mas o que significa "completa"? Passemos por cima do fato de um conto - histórico ou não - ser uma construção e, sob a aparência honesta e objetiva, proceder a toda uma série de escolhas não explícitas. Toda a concepção da história que a identifica com o conto afigura-se- me, hoje, inaceitável.


Pg 35. Segue-se a caracterização dos oito autores escolhidos da seguinte maneira: Michelet é o realismo histórico, entendido como romance; Ranke, o realismo histórico, como comédia; Tocqueville, o realismo histórico, como tragédia; Burckhardt, o realismo histórico, como sátira; Hegel, a poética da história e da vida para além da ironia; Marx, a defesa filosófica da história em termos metonímicos; Nietzsche, a defesa poética da história em termos metafísicos; e Croce, a defesa filosófica da história em termos irônicos.
As sete conclusões gerais sobre a consciência histórica no século XIX, propostas por Hayden White, podem resumir-se em três idéias:

1) não existe diferença fundamental entre história e filosofia dá história;
2) a escolha das estratégias de explicação histórica é mais de ordem moral ou estética do que epistemológica;
3) a reivindicação duma cientificidade da história não passa do disfarce de uma preferência por esta ou aquela modalidade de conceitualização histórica.

E, por fim, a conclusão mais geral - mesmo para além da concepção de história no século. XIX - é que a obra do historiador é uma forma de atividade simultaneamente poética, científica e filosófica.
Seria demasiado fácil ironizar - sobretudo a partir do esquelético resumo que dei de um livro recheado de sugestivas análises detalhadas - sobre esta concepção de "meta-história”, os seus a priori e os seus simplismos.
Vejo aqui duas possibilidades interessantes de reflexão. A primeira é a que contribui para esclarecer. a crise do historicismo no fim do século XIX, da qual falarei mais adiante. A segunda é que ele permite pôr - com base num exemplo histórico - o problema das relações entre a história como ciência, como arte e como filosofia.


Pg 41. [...] Os conceitos do historiador são, com efeito, não vagos, mas por vezes metafóricos, precisamente porque devem remeter ao mesmo tempo para o concreto e para o abstrato, sendo a história e é como as outras ciências humanas ou sociais - uma ciência não tanto do complexo, como se prefere dizer, mas do especifico; como o diz, com razão, Paul Veyne.
A história, como todas as ciências, deve generalizar e explicar. Faz isso de modo original. Como diz Gordon Leff, tal como muitos outros, o método de explicação em história é essencialmente dedutivo.
"Não haveria história nem discurso conceitual sem generalização [...] A compreensão histórica não difere pelos processos mentais que são inerentes a qualquer raciocínio humano, mas pelo seu estatuto que é mais o de um saber dedutivo que demonstrável" (1969,pp. 79e80). A significação em história tanto se faz tornando inteligível um conjunto de dados inicialmente separados como através da lógica interna de cada elemento: "A significação em história é essencialmente contextual" (op. cit., p. 57).
Finalmente, em história as explicações são mais avaliações do que demonstrações, mas incluem opinião do historiador em termos ..racionais, inerentes ao processo intelectual de explicação:
Os teóricos da história esforçaram-se, ao longo dos séculos, por introduzir grandes princípios suscetíveÍs de fornecer chaves gerais da evolução histórica. As duas principais noções avançadas foram, por um lado, a do sentido da históriâe, por outro, a das leis da história.
A noção de um sentido da história pode decompor-se em três tipos de explicação: a crença em grandes movimentos cíclicos, a idéia de um fim da história consistindo na perfeição deste muedo, a teoria de um fim da história situado fora dela (Beglar, 1975).
Pg 42. Podemos considerar que as concepções astecas ou, de certo modo, as de Arnold Toynbee, integram,-se na primeira opinião, o marxismo na segunda e o cristianismo na terceira.
No interior do cristianismo estabelece-se uma grande clivagem entre os que, com santo Agostinho e a ortodoxia católica, baseados na idéia das duas cidades, a terrestre e a celeste, exposta na De Civitate Dei) sublinham a ambivalência do tempo da história, presente tanto no caos aparente da história humana (Roma não é eterna e não é o fim da história) como no fluxo escatológico da história divina, e os que, com os milenaristas e Joaquim da Fiore, procuram conciliar a segunda e a terceira concepções do sentido da história. A história acabaria uma primeira vez com o aparecimento de uma terceira idade, reino dos santos na terra, antes de acabar com a ressurreição da carne e o Juízo Final. É esta, no século XIII, a opinião de Joaquim da Fiore e de seus discípulos, que não só .nos faz sair da teoria. da história como também da filosofia da história, para nos fazer entrar na teologia da história. No século XX, a renovação religiosa gerou em alguns pensadores uma recuperação da teologia da história. O russo Berdjaev (1923) profetizou que as contradições da história contemporânea dariam lugar a uma nova criação conjunta do homem e de Deus. O protestantismo do século XX viu defrontarem-se diversas correntes escatológicas: a da "escatologia conseqüente" de Schweizer, a da "escatologia desmitificada' de Baltmann, a da "escatologia realizada' de Dodd, a da "escatologia antecipada de Cullmann, entre outras. Retomando a análise de santo Agostinho, o historiador católico Henri-Irénée Marrou (1968) desenvolveu a idéia da ambigüidade do tempo da história:

o tempo da história está carregado de uma ambigüidad4de uma ambivalência radical: ele é certamente, mas não só, como o imaginava uma doutrina superficial, um "fator de progresso"; a história tem também uma.face sinistra e sombria: este acontecimento, que se cumpre miste- riosamente, traça um caminho através do sofrimento, da morte e da degradação (1968).


Pg 43. De outra parte, já escrevi sobre a concepção cíclica e a idéia de decadência (ver o artigo "Decadência", neste volume) e exporei mais adiante uma amostragem desta concepção, a filosofia da história de Spengler.
Sobre a idéia do fim da história consistindo na perfeição deste mundo, a lei mais coerente exposta foi a de progresso (ver artigo "Progresso/Reação", neste volume). Neste artigo, mostrei o nasci- mento, triunfo e crítica da noção de progresso; apenas exporei aqui algumas observações sobre o progresso tecnológico(cf Gallie, 1963.., pp. 191-93).
Gordon Childe, depois de ter afirmado que o trabalho do historiador consistia em encontrar uma ordem no processo da história humana (1953, p. 5) e defendido que não havia leis em história, mas uma "seqüência de ordem", tomou como exemplo desta ordem a tecnologia. Para ele, há um progresso tecnológico "desde a Pré-História à Idade do Carvão", que consiste numa seqüência ordenada de acontecimentos históricos. Mas Gordon Childe lembra que, em cada fase, o progresso técnico é um "produto social" e, se procurarmos analisá-lo desse ponto de vista, apercebemo-nos que o que parecia linear é irregular (erratic) e, para explicar estas "irregularidades e estas flutuações", temos de nos voltar para as instituições sociais, econômicas, políticas, jurídicas, tçológicas, mágicas, os costumes e as crenças - que agiram como estímulos ou como freios -, em resumo, para toda a história na sua complexidade. Mas será legítimo isolar o do- mínio da tecnologia e considerar que o resto da história não age sobre ele senão do exterior? Não seria a tecnologia uma componente de um conjunto mais vasto cujas partes só existem pela decomposição mais ou menos arbitrária feita pelo historiador?
Este problema foi posto de uma maneira notável por Bertrand Gille (1978, pp. viii e segs.), que passa a noção de que sistema técnico seja um conjunto coerente de estruturas compatíveis umas com as outras. Os sistemas técnicos históricos revelam uma ordem técnica. Este "modo de abordar o fenômeno técnico" obriga a um diálogo com os especialistas dos outros sistemas: o economista, o lingüista, o sociólogo, o político" o jurista, o sábio, o filósofo [...]


Pg 45. Marx escreveu numa carta: A história universal teria um caráter muito místico se excluísse o acaso. Este acaso, bem entendido, faz parte do processo geral de desenvolvi- mento e é compensado por outras formas de acaso. Mas a aceleração ou o atraso do processo dependem desses "acidentes", incluindo o caráter "fortuito" dos indivíduos que estão à frente do movimento na sua fase inicial (apud Carr, 1961, p. 95).

Pg 46. Esboçada assim a questão das regularidades e da racionalidade em história, resta-me evocar os problemas da unidade e da diversidade, da continuidade e da descontinuidade em história. Como estes problemas estão no âmago da crise atual da história, voltarei a eles no final deste ensaio. Limitar-me-ei a dizer que, se o objetivo da verdadeira história foi sempre o de ser uma história global ou total- integral, perfeita, como diziam os grandes historiadores do fim do século XVI -, a história, à medida que se constitui como corpo de disciplina cientifica e escolar, deve encarnar,se em categorias que pragmaticamente a fracionam. Estas categorias dependem da própria evolução histórica: a primeira parte do século XX viu nascer a história econômica e social; a segunda, a história das mentalidades. Por isso, a aspiração dos historiadores à totalidade histórica pode e deve adquirir formas diferentes que, também elas, evoluem com o tempo. O historiador é por vezes mais ou menos imposto pelo estado da documentação , dado que cada tipo de fonte exige um tratamento diferente, no interior de uma problemática de conjunto. Ao estudar o nascimento do Purgatório dos séculos III e XIV no Ocidente, reportei-me a textos teológicos e histórias de visões, seja para exempla, uso litúrgico ou práticas de devoção; e teria recorrido à iconografia, se o Purgatório não tivesse estado tanto tempo ausente dela. Analisei algumas vezes pensamentos individuais; outras, mentalidades coletivas, ou ainda a mentalidade dos poderosos e das massas.


Pg 47. Mas tive sempre presente que, sem determinismo nem fatalidade, com lentidões, perdas, desvios, a crença no Purgatório tinha-se encarnado no seio de um sistema e que este sistema só tinha sentido devido a seu funcionamento numa sociedade global (cf. Le Goff, 1981).
No que se refere à continuidade e à descontinuidade, já falei do conceito de revolução. Gostaria de acabar a primeira parte deste ensaio insistindo no fato de que o historiador deve respeitar o tempo que, sob diversas formas, é a condição da história e que deve fazer corresponder seus quadros de explicação cronológica à duração do vivido. Datar é e será sempre uma das tarefas fundamentais do historiador, mas deve fazer-se acompanhar de outra manipulação necessária da duração - a periodização -, para que a datação se torne historicamente pensável.
Gordon Leff recordou com veemência: A periodização é indispensável a qualquer forma de compreensão histórica' (1969, p. 130), acrescentando com pertinência: "A periodização, como a própria história, é um processo empírico, delineado pelo historiador" (op. cit., p. 150). Acrescentarei apenas que não há história imóvel e que a história também não é a pura mudança, mas o estudo das mudanças significativas. A periodização é o principal instrumento de inteligibilidade das mudanças significativas.

A mentalidade histórica: os homens e o passado


Pg 48. Adoto, neste ensaio, a expressão "cultura histórica', usada por Bernard Guenée (1980). Sob este termo, Guenée reúne a bagagem profissional do historiador, sua biblioteca de obras históricas, o público e a audiência dos historiadores. Acrescento-lhes a relação que uma sociedade, na sua psicologia coletiva, mantém com o passado. Minha concepção não está muito afastada daquilo a que os anglo-saxônicos chamam historical mindedness. Conheço os riscos desta reflexão: considerar unidade uma realidade complexa e estruturada em classes ou, pelo menos, em categorias sociais distintas por seus interesses e cultura, ou supor um "espírito do tempo" (Zeitgeist), isto é, um inconsciente coletivo, o que são abstrações perigosas. No entanto, os inquéritos e os questionários usados nas sociedades "desenvolvidas" de hoje mostram que é possível abordar os sentimentos da opinião pública de um país a respeito de seu passado, assim como sobre outros fenômenos e problemas (cf. Lecuir, 1981).
Como estes inquéritos são impossíveis no que se refere ao passado, esforçar-me-ei por caracterizar - sem dissimular o aspecto arbitrário e simplificador deste procedimento - a atitude dominante de algumas sociedades históricas perante seu passado e sua história. Considerarei os historiadores os principais intérpretes da opinião coletiva, procurando distinguir suas idéias pessoais da mentalidade coletiva. Sei bem que ainda continuo a confundir passado com história na memória coletiva. Devo, pois, dar algumas explicações suplementares que tornam mais precisas as minhas idéias sobre a história,
A história da história não se deve preocupar apenas com a produção histórica profissional, mas com todo um conjunto de fenômenos que constituem a cultura histórica, ou melhor, a mentalidade histórica de uma época. Um estudo dos manuais escolares de história é um aspecto privilegiado, [...]



Pg 52. [...] Sabemos também que a história se faz em geral da mesma maneira nos três grandes grupos de países existentes hoje no mundo: o mundo ocidental, o mundo comunista e o Terceiro Mundo. As relações entre a produção histórica destes três conjuntos dependem das relações de força e das estratégias políticas internacionais, mas também se desenvolve um diálogo entre especialistas, entre profissionais, numa perspectiva científica comum. Este quadro profissional hão é puramente científico, ou melhor, exige um código moral semelhante ao de todos os cientistas e homens de ofício; exige aquilo que Georges Duby chama de "uma ética", (Duby e Lardreau, 1980., pp. 15-16)., que eu chamaria, mais "objetivamente", de uma ideontologia. Não insisto deste ponto, mas considero-o essencial; constato que, apesar de alguns desvios, esta deontologia.
A cultura (ou mentalidade) histórica não depende apenas das relações memória-história, presente-passado. A história é a ciência do tempo. Está estritamente ligada às diferentes concepções de tempo que existem numa sociedade e é um elemento essencial da aparelhagem mental de seus historiadores. Voltarei à concepção de um contraste existente na Antigüidade, quer nas sociedades que no próprio pensamento dos historiadores, entre uma concepção circular e uma concepção linear do tempo.


Pg 54. A tese a-histórica sobre a India foi brilhantemente defendida por J Dumont (1962), que recorda que Hegel e Marx deram à história da Índia um destino à parte, colocando-a praticamente fora da história. Hegel, ao fazer das castas "hindus" o fundamento de uma "diferenciação inabalável"; Marx, ao considerar que, em contraste com o desenvolvimento ocidental, a Índia conhece uma "estagnação", a estagnação de uma economia "natural" - por oposição à economia mercantil- à qual se sobrepunha um "despotismo" (1962, p. 49)

[...]
A mentalidade histórica romana não foi muito diferente da grega, que aliás a formou. Políbio, o mestre grego que iniciou os romanos no pensamento da história, vê, no imperialismo romano a dilatação do espírito da cidade, e, perante os bárbaros, os historiadores romanos, exaltarão a civilização encarnada em Roma, que Salústio exalta perante o africano que aprendeu em Roma os meios de combatê-Ia; a Tito Uvio ilustra perante os selvagens,da Itália e os cartagineses reduzires romanos à escravatura, tinham tentado os persas em relação aos gregos, que César encarna contra, gauleses, que Tácito abandonar no seu despeito anti-imperial para admirar estes bons selvagens bretões e germanos, que ele vê com os traços dos antigos, romanos virtuosos, anteriores a decadência, sobre qual Políbio teriorizou com base na semelhança entre as sociedades humanas e os indivíduos. As instituições desenvolvem -se declinam e morrem, tal como os indivíduos, pois como eles, estão submetidas às leis da natureza, e a própria grandeza romana morrerá - teoria que Montesquieu relembrará. A lição da história, para os antigos resume-se a uma negação da história. O que ela lega de positivo são os exemplos dos antepassados, heróis e grandes homens.

[....]
O cristianismo foi visto como uma ruptura, uma revolução na mentalidade histórica. Dando à história três ponto fixos – a Criação, início absoluto da História; a encarnação, início da história cristã e da história da salvação; e o Juízo Final, fim da história - o cristianismo teria substituído as concepções antigas de um tempo: circular pela noção de um tempo linear e teria orientado a história,dando-Ihe um sentido. Sensível às datas., procura datar a Criação, os principais pontos de referência do Antigo Testamento e, com a maior precisão possível, o nascimento e morte de Jesus -religião histórica, apoiada na história, o cristianismo teria imprimido à história do Ocidente um impulso decisivo. Guy Lardreaue Georges Duby, ainda recentemente, insistiram na ligação entre o cristianismo e o desenvolvimento da história no Ocidente.
O cristianismo favoreceu uma certa propensão para raciocinar em termos históricos, característica dos hábitos do pensamento ocidental, mas o estreitar de relações entre o cristianismo e a história, parece-me, deve ser esclarecido. Em primeiro lugar, estudos recentes mostraram que não devíamos reduzir a mentalidade antiga -;- nomeadamente agrega -à idéia de um tempo circular (Momigliano,1966b; Vidal- Naquet, 1;960).


Pg 65. Por seu lado, o cristianismo não pode ser reduzido à idéia de um tempo Linear: um tipo de tempo circular, o tempo Litúrgico, desempenha nele um papel de primeiro plano. Sua supremacia, durante muito tempo, levou o cristianismo a datar apenas os dias e os meses, sem mencionar o ano, de maneira a integrar os acontecimentos no calendário litúrgico. Por outro lado, o tempo teológico e escatológico não conduz necessariamente a uma valorização da história [...]

Podemos considerar que a salvação tanto realizará fora da história, ou da recusa da história, como através da história e pela história. Ambas as tendências existiram e existem ainda no cristianismo (cf. O artigo "Escatologia", neste volume). Se o Ocidente prestou especial atenção à história, desenvolvendo especialmente a mentalidade histórica e atribuindo um lugar importante à função da evolução social e política. Muito cedo, alguns grupos sociais e políticos e os ideológicos dos sistemas políticos tiveram em se pensar historicamente e em impor quadros de pensamento históricos. Como;se viu, este interesse apareceu primeiro no Oriente Médio e no Egito, nos hebreus e depois nos gregos. É apenas devido ao fato de ser desde há muito a ideologia dominante do Ocidente que o cristianismo forneceu-lhe algumas formas de pensamento histórico. Quanto às outras civilizações, se elas parecem dar menos importância ao espírito histórico, isso se deve ao fato de, por um lado, reservarmos o nome de história às concepções ocidentais e não reconhecemos como tais outras maneiras de pensar a história e, por outro lado, porque as condições sociais e políticas que favoreceram o desenvolvimento da história no Ocidente nem sempre, se produziram em outros lados.
Para concluir, o cristianismo trouxe importantes elementos à mentalidade histórica, mostra fora da concepção agostiniana da história (cf. Adiante pg. 78-80), que teve grande influência na Idade Média e mais tarde. Alguns historiadores cristãos orientais dos séculos IV e V tiveram, assim grande influência sobre a mentalidade histórica, não só indiretamente, no Ocidente. É o caso de Eusébio de Cesária, de Sócrates, o Escolástico, de Sozomeno, de Teodoreto de Ciro. Acreditavam no Livre-arbítrio (Eusébio e Sócrates eram, mesmo, seguidores de Orígenes) e pensavam que o destino cego, o factum, não tinha uma função histórica, ao contrário do que pensavam os historiadores romanos.


Pg 68 [...] "A auto-historiografia veneziana medieval conheceu, no entanto, muitas vicissitudes reveladoras. Em primeiro lugar, mais que a unidade e a segurança finalmente conquistadas, há um contraste flagrante entre a historiografia antiga que se reflete as divisões e as lutas internas da cidade. “ A historiografia [...] refletirá uma realidade em movimento, as lutas e as conquistas parciais que assinalam, uma ou mais forças que nela agem; e não a serenidade satisfatória de quem contempla um processo concluído” (Cracco, 1970, pg. 45-46).
[...] O renascimento é a grande época da mentalidade histórica. É assinalado pela idéia de uma história nova, global, a história perfeita, e por progresso importantes de métodos e de crítica histórica. Das suas relações ambíguas coma Antigüidade (ao mesmo tempo, modelo paralisante e pretexto inspirador), a história humanista e renascentista assume uma atitude de dupla e contraditória perante a história. Por um lado, o sentimento das diferenças e do passado, da relatividade das civilizações, mas também da procura do homem, de um humanismo e de uma ética em que a história, paradoxalmente, se torna magistra vitae, negando-se a si própria, fornecendo exemplos e lições atemporalmente válidos. (cf. Landfester, 1972). Ninguém melhor que Montaigne (1580-1592) manifestou este aspecto ambíguo de história:

Os historiadores são os que mais me agradam, são agradáveis e naturais; [...] o homem em geral, que eu procuro conhecer através deles, parece mais vivo e mais inteiro que em qualquer outro lugar, a diversidade e verdade das suas condições internas em todas as circunstâncias, a variedade dos seus modos de ligação e dos acidentes que o ameaçam (pJ?117-19).


[...] Resta dizer que – apesar de uma história nova, independente erudita – a história do renascimento esta estritamente dependente dos interesses sociais e políticos dominantes, nesse caso do Estado. Dos Séculos XII ao XIV, o protagonista da produção historiográfica tinha sido, no meio senhorial e monárquico, o protegido dos grandes [...]
[...] no meio urbano, o historiador é um membro da alta burguesia no poder, como Leonardo Bruni, chanceler de Florença, de 1427 a 1444, ou são altos funcionários do Estado, entre os quais os dois mais celebres exemplos foram, em Florença, Maquiavel, da chancelaria florentina [...]
É na França que podemos seguir melhor a tentativa de domesticação da história pela monarquia, nomeando no século XVII, em que os defensores da ortodoxia católica e os partidos absolutismo real condenaram libertia (libertina) a critica histórica dos historiadores do século XVI e do reinado de Henrique IV. Esta tentativa manifestou-se no ataque a historiógrafos oficiais, desde o século XVI até a Revolução.


Pg 69. Gostaria de evocar as repercussões, no século XVI e no início do século XVII, de um dos mais importantes fenômenos desta época a descoberta do “Novo Mundo”. O resultado da conquista parece para os índios,a perda de sua identidade, a morte dos deuses e do Inca, a destruição dos ídolos e costumes dos índios, isto é, um traumatismo coletivo.

Pg 70. Quando falamos de uma lógica ou de uma racionalidade pretendemos definir leis matemáticas, necessárias e válidas para todas as sociedades, como se a história obedecesse a um determinismo natural[...] , cuja a reconstituição se torna indispensável para a compreensão do acontecimento.

Pg 71. resta dizer que – apesar de uma história nova, independente e erudita – a história do renascimento está restritamente dependente dos interesses sociais e políticos dominantes, neste caso do estado. Nos séculos XII e XIV, o protagonismo historiográfico estava ligado ao meio senhoril e monárquico.

Para além disto, o historiador, no meio urbano, é um membro da alta burguesia no poder, como Leonardo Bruni, chanceler de Florença.

Pg 72. É na França que podemos seguir melhor a tentativa de domesticação da história pela monarquia.

O espírito das luzes, um pouco do Renascimento, terá uma atitude ambígua perante a história. É certo que a história filosófica traz para o desenvolvimento da história “um considerado aumento da curiosidade. Mas o racionalismo dos filósofos trava o desenvolvimento do sentido histórico”.

A história é uma arma contra o “fanatismo” e as épocas em que reinou, como a idade Média, não merecem mais o desprezo e o e aquecimento: “Só devemos conhecer a história desse tempo, para a desprezar”.

Paradoxalmente, a Revolução Francesa, no seu tempo, não estimulou a reflexão histórica.


As filosofias da história

Pg 77. [...] Os estudos das filosofias da história não faz parte de uma reflexão sobre a história, como impõem a todos o estudo de historiografia.


[...] distinguirei dois casos de teóricos que foram ao mesmo tempo, historiadores e filósofos da história que, sem atingir um alto nível em nenhuma das disciplinas, suscitaram reações significativas no século XX: Spengler e Toynbee.

Pg 80. Enquanto que a história ocidental medieval prosseguia lenta e humildemente as tarefas do ofício de historiador.

Pg 85. A história dos filósofos das luzes que se esforçaram por torná-la racional, aberta às idéias de civilização e de progresso, não substituiu a concepção de história exemplar e a história ficou de fora da grande revolução científica dos séculos XVII e XVII, início do século XIX, universitários que não precisam se procurar com o publico para quem a história a história era uma ciência ética [...]

Pg 89. De fato, o historicismo marcou todas as escolas de pensamento do século XIX, conseguindo finalmente triunfar, devido à teoria de Darwin sobre o evolucionismo em The Origgin of species (1859).


Pg 95. Pode integrar-se o materialismo histórico no historicismo, se tomarmos no seu sentido mais lato vermos mais adiante a crítica de Althusser a esta concepção. [...] os principais textos de Marx relativos à história estão na Ideologia alemã [Marx e Engels] que “apreendem o materialismo histórico na sua gênese e nas suas modalidades”.
Pg. 103. Michael Foucault ocupa um ligar excepcional na história por três razões, primeiro por ser um dos maiores historiadores novos. Em seguida por fazer o diagnostico mais perspicaz sobre esta renovação de história, e finalmente, Foucalt propõem uma filosofia original da história, estritamente ligada à prática e a metodologia da disciplina histórica. Ele faz uma analise baseada em quatro pontos:

- Questionar os documentos: a história tradicional tende a supervaloriza-los;

- A falta de descontinuidade que traz o papel quanto tem grande valor histórico;

- o tema e a possibilidade de construção de uma história global e;

- Novos métodos: escolha de critérios, as regras de analise, etc...


A história como ciência: ofício de um historiador

Pg.O fato de a história precisar de técnicas e, métodos e de ser ensinada a torna uma ciência. A. es de mais nada deve decidir sobre aquilo que vai considerar como documento e que irá ser esquecido.

A grande extensão de documentação historiográfica é um fenômeno da contemporaneidade faz entrarmos dentro da arqueologia.
Lê Goff, faz uma reflexão histórica que se aplica até hoje da ausência de documentos, aos silêncios da história.
A história tornou-se científica ao questionar os documentos chamamos fontes.
Os historiadores do século XVII ao XIX aperfeiçoaram uma crítica de documentos que hoje esta adquirida, continua e necessária.



A história hoje

Sobre a história contemporânea gostaria de apresentar um esboço da sua renovação enquanto prática científica e por outro lado, evocar o seu papel na sociedade.

Uma das mais antigas manifestações foi o desenvolvimento da história da economia e social, devemos também mencionar aqui o papel da ciência histórica alemã e do grande historiador belga Henri Pirenne.
Na medida e que a sociologia e antropologia se desenvolveram desempenham um papel importante na mutação da história do século XX.
Com o marxismo, surgiu Max Weber, único pensamento coerente da história do século XX.

Pg 141. O grande problema da história global, geral , a tendência secular de uma história que não seja só universal e sintética, que vai do cristianismo antigo ao historicismo alemão, mas que seja integral ou perfeita.


Pg. 142. Ultrapassando o problema de uma nova política põe-se o do lugar a dar ao acontecimento na história, tomando-o no seu duplo sentido.


Pg 143. Eric Hobsbawn respondeu –lhe que os métodos, as orientações e os produtos da historia “nova” não eram, de modo algum, renúncias às grandes questões nem um abandono da investigação das causas [....]


A reivindicação dos historiadores não obstante a diversidade das suas concepções e práticas e ao mesmo tempo, imensa e modesta.


Pg 146. o paradoxo surge do contraste entre o sucesso que a história tem na sociedade e a crise do mundo dos historiadores.

A crise do mundo dos historiadores nasce do limites e das incertezas da nova história, do desencanto dos homens face às durezas da história vivida.

A história histotizante pede pouco. Muito pouco (FEVRE).

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